28 de fev. de 2009

A melhor forma de esquecer
é dar tempo ao tempo
a melhor forma de curar o vício
é no início
a melhor forma de escolher
é provar o gosto
a melhor forma de chorar
é cobrindo o rosto
evitar as rugas é não olhar no espelho
esvaziar o revólver
é puxar o gatilho
a melhor forma de esconder as lágrimas
é na escuridão
a melhor forma de enxergar no escuro
é com as mãos
as idéias estão no chão
você tropeça e acha a solução
Acabar com a dor é tomar um analgésico
matar a saudade
é não olhar pra trás
a melhor forma de manter-se jovem
é esconder a idade
a melhor forma de fugir é a toda velocidade
as idéias estão no chão
você tropeça e acha a solução

24 de fev. de 2009

    la vie en close
c´est une autre chose

c´est lui
c´est moi
c´est ça

c´est la vie des choses
qui n´ont pas
un autre choix

22 de fev. de 2009


"Excusez un peu… Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina."

F.P

*Dia 7 será o dia da verdade ! Sorte pra equipe.

18 de fev. de 2009

passos lentos
escrevem
VONTADE DE CHEGAR

precisa andar
como quem já chegou

chega de chegar

depressa
é muito devagar

P.L

*Cantinho da Neurose: Eu tive uma miragem. Sim!

17 de fev. de 2009

Derrubar ídolos - isso sim, já faz parte do meu ofício. A mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, com ela a humanidade mesma se tornou, até em seus mais profundos instintos, mentirosa e falsa.

A procura por tudo o que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral. Quanto de verdade suporta, quanto de verdade ousa um espírito? Cada conquista, cada passo avante no conhecimento decorre do ânimo, da dureza contra si, do asseio para consigo… Pois até agora o que se proibiu sempre, por princípio, foi somente a verdade.

Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser apenas um aluno.
Transtrocar perspectivas: primeira razão pela qual para mim somente, talvez, é possível em geral uma “transvaloração dos valores”.

Fiz de minha vontade de saúde, de vida, minha filosofia.

Um homem bem logrado advinha meios de cura contra danos, utiliza acasos ruins em sua vantagem: o que não o derruba torna-o mais forte. Está sempre em sua companhia, quer esteja com livros, homens ou paisagens.

Aqui precisametne é preciso começar a reaprender. Aquilo que até agora a humanidade ponderou seriamente nem sequer são realidades, são meras imaginações, ou, dito mais rigorosamente, mentiras provenientes dos piores instintos de naturezas doentes, perniciosas no sentido mais profundo - todos os conceitos “Deus”, “alma”, “virtude”, “pecado”, “além”, “verdade”, “vida eterna”, …

Uma coisa sou eu, outra são meus escritos. Não quero ser confundido - isso implica que eu próprio não me confunda.

Ninguém pode ouvir nas coisas, inclusive nos livros, mais do que já sabe. Para aquilo que não se tem acesso por vivência, não se tem ouvido.
Quem acreditou ter entendido algo de mim, havia ajustado algo de mim à sua imagem - não raro um oposto de mim, por exemplo, um “idealista”.

Nietzche

16 de fev. de 2009

"...Vou lhe contar sobre os muito ricos. Eles são diferentes de mim ou de você. Habituaram-se desde cedo a possuir e a usufruir, e isso modifica alguma coisa dentro deles, faz com que sejam suaves naquilo em que somos duro, cínicos quando somos esperançosos. É difícil de entender, a não ser que você tenha nascido rico. No fundo acham-se melhores do que nós, por que temos que descobrir por conta própria os refúgios e compensações da vida. E, mesmo quando mergulham profundamente em nosso mundo ou descem abaixo do nosso nível, ainda assim continuam achando que são melhores do que nós. Eles são diferentes..."

(F. Scott Fitzgerald)


*Cantinho da neurose:
Se é.., que os ventos estejam ao meu favor. Momento de mudança.

15 de fev. de 2009

quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento


Paulo Leminski



14 de fev. de 2009

Eis o que pensei; para que o mais banal dos acontecimentos se torne uma aventura, é preciso e basta que nos ponhamos a narrá-lo. É isso que ilude as pessoas: um homem é sempre um narrador de historias, vive rodeado por suas historias e pela historia dos outros, vê tudo o que lhe acontece através delas, e procura viver sua vida como se a narrasse.
Mas é preciso escolher: viver ou narrar.
Quando se vive, nada acontece. Os cenários mudam, as pessoas entram e saem eis tudo. Nunca ha começos. Os dias se sucedem aos dias, sem rima nem razão: é uma soma monótona e interminável.
Viver é isso. Mas quando se narra a vida, tudo muda; simplesmente é uma mudança que ninguém nota: a prova é que se fala de historias verdadeiras. Como se fosse possível haver historias verdadeiras; os acontecimentos ocorrem num sentido e nós os narramos em sentindo inverso. Ele esta ali, invisível e presente, é ele que confere as poucas palavras a pompa e o valor de um começo.
E temos a impressão e que o herói viveu todos os detalhes dessa noite como anunciações, como promessas, ou ate mesmo de que vivia somente aqueles que eram promessas, cego e surdo para tudo que não anunciava a aventura. Esquecemos que o futuro ainda não estava ali; o sujeito passeia em uma noite sem pressagio, que lhe proporcionava de cambulhada suas riquezas monótonas, e ele não escolhia.
Quis que os momentos da minha vida tivessem uma seqüência e uma ordem como os de uma vida que recordamos. O mesmo ou quase, que tentar capturar o tempo.

Sartre

*Cantinho da Neurose: Eu prefiro viver. Viver e narrar. Viver, por mais que as circuntancias nao sejam favoraveis a principio.

13 de fev. de 2009


O olhar é, primeiramente, um intermediário que me remete a mim mesmo. Basta que o outrem me olhe para que eu seja o que sou; ele me constitui através do olhar. Um olhar que me objetiviza e faz com que eu deixe de ser possuído pelo mundo; o fundamento da relação com o outrem é o conflito. Olhando-me o outro me julga, faz de mim objeto de seu pensamento. Eu dependo dele. Passo a estar em perigo e esse perigo é a estrutura permanente de meu ser para o outrem. De certa forma, eu poderia gozar dessa escravidão sob o olhar do outrem, pois se perco minha liberdade, perco, conseqüentemente, minhas responsabilidades, porém, isso não passa de uma ilusão, porque minha redução ao estado de objeto não me permite escapar à minha posição de sujeito e, ainda, solicita esta posição, pois da mesma forma que sou olhado, também olho. O outro me obriga a me ver através de seu pensamento como eu, reciprocamente, o obrigo a se ver através do meu. Eu dependo do outro que depende de mim.

Sartre

11 de fev. de 2009


"...depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro"

Caio Fernando Abreu .

"É também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa”

. Clarice Lispector


*Trabalho alucinante, mas sempre observando o cotidiano. Sempre.

9 de fev. de 2009


"Nuvens douradas pastam perfumes seculares"

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...

Alberto Caeiro

8 de fev. de 2009

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Sinto a falta dele como se me faltasse um dente da frente: excruciante"

C.L

6 de fev. de 2009

“A sensação é tudo, afirma Caeiro, e o pensamento é uma doença. Por sensação entende Caeiro a sensação das coisas tais quais são, sem acrescentar quaisquer elementos do pensamento pessoal, convenção, sentimento ou qualquer outro lugar da alma. [...] Caeiro tem uma disciplina: as coisas devem ser sentidas como são. [...] Caeiro não tem ética a não ser a simplicidade”.



Cantinho da Neurose: Não tem neurose alguma, mas sim a simplicidade de sentir, a leveza da desintoxicação. Não sei bem, mas as interpretações se foram, só restou a percepção da coerência límpida. Uma grande apresentação circense, e eu era a piada. Mas uma piada nem sempre tem graça. A graça também se foi. Ao menos não fui protagonista da roda da Morte.

5 de fev. de 2009


Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

F.P

3 de fev. de 2009

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

CL

2 de fev. de 2009


A esperança, como um fósforo inda aceso,

Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.

A falha social do meu destino

Reconheci, como um mendigo preso.

Cada dia me traz com que 'sperar

O que dia nenhum poderá dar.

Cada dia me cansa de Esperança...

Mas viver é sperar e se cansar.

O prometido nunca será dado

Porque no prometer cumpriu-se o fado.

O que se espera, se a esperança e gosto,

Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.

Quanta ache vingança contra o fado

Nem deu o verso que a dissesse, e o dado

Rolou da mesa abaixo, oculta a conta.

Nem o buscou o jogador cansado.

(Fernando Pessoa)

1 de fev. de 2009

Não gosto de falar em infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo, estragando os prazeres.

Recordando o tempo de criança, vejo por lá um excesso de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo dos soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada. Fui rancoroso e revolucionário permanente, então. Já era míope e, nem mesmo eu, ninguém sabia. Gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas, tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar histórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas."


(Guimarães Rosa)

Pensaram por aqui

 

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