30 de dez. de 2009
29 de dez. de 2009
28 de dez. de 2009
25 de dez. de 2009
Júlio Cortazar
*Aos meus caros leitores, cúmplices na poesia, desejo um novo ano com muitas evoluções e grandes interpretações das palavras/vidas que estão por vir.
Camila Karina
23 de dez. de 2009
20 de dez. de 2009
Acender velas para chamar LUZ, jogar rosas amarelas nas águas dos rios para Oxum.
Coisas assim: ritualizar, para dialogar com O Mistério. Para que ele te/nos proteja.
Coisas claras, panos brancos, incensos e flores.
Purificar, purificar o que na essência da nossa condição humana é pura e medonha treva de desconhecimento de todos os porquês.¨
Caio Fernando Abreu
14 de dez. de 2009
Sylvia Plath
11 de dez. de 2009
Júlio Cortazar
10 de dez. de 2009
Visitem: http://br.olhares.com/ckpolvora
9 de dez. de 2009
As palavras parecem cinzas de cigarro levadas pelo vento, asfixiando minha respiração
Tento tossir para expelir as angustias que pesam no escudo vital, sem êxito
A solução é derramar o sal dos olhos para amenizar os poros em alto relevo doloridos
Encaro de frente.
Quantas vezes mais é necessário passar pelos exames dos sentimentos até chegar à um diagnostico tranquilo?
Com um novo médico? Ou um novo pulmão?
Camila Karina
7 de dez. de 2009
A frescura de impressões, o modo directo de sentir que aprendi nos seus versos, apliquei-o a outros assuntos, a uma Natureza de ordem diversa. Assim, reparei que uma máquina é tão natural - porque é tão real, e, afinal, ser natural é ser real, se fôssemos a pensar a fundo - como uma árvore; e uma cidade como uma aldeia. O que é essencial é sentir directamente e com ingenuidade as coisas - árvores ou máquinas, campo ou cidade. A m[inha] sensibilidade predispõe-me a sentir a máquina mais do que a árvore, a cidade mais do que o campo. Não deixo por isso de ter direito ao nome de poeta. O essencial ésentir directa e simplesmente. Eu sinto directa e simplesmente. Sinto o complexo, o anormal e o artificial? É o meu modo de sentir. Logo que eu os sinta espontaneamente, estou no meu lugar, no lugar que a Natureza, criando-me assim, me impôs. Cumpro o meu dever.
Chamam-me um «transviado». Não o sou. [...] Nasci para sentir as coisas simplesmente, tanto como vós; eu não nasci, como vós para sentir só as coisas simples. Se eu sou eu e não vós, para que hei-de escrever como escreveis? Escrevo [...] em mim é eu ser eu. Em que sou eu «transviado» em ser eu?
Para mim o único modo de transviar é criar um sistema, ou pertencer a um sistema. Há horas do dia em que sou materialista [?] e outras em que sou ultramontano, completamente ultramontano. É conforme sinto. Acho isto natural.
Se, como a grande maioria da gente, eu [...], se eu fosse panteísta, espiritualista, protestante, católico (...), qualquer coisa que se saiba o que é e se pode definir, eu mereceria o nome de transviado. Apenas vejo nunca pertencendo a um sistema ou a uma filosofia, mas pertencendo a um cérebro e a um sistema nervoso, e estes têm um modo de sentir e não uma religião, ou uma estética, ou uma moral qualquer.
Álvaro de Campos
2 de dez. de 2009
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferrera Gullar
1 de dez. de 2009
29 de nov. de 2009
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Carlos Pena Filho
26 de nov. de 2009
Para ver os outros esperar,
Para ser os outros todos a esperar,
Para ser a esperança de todos os outros.
Chegam os retardatários do princípio,
E de repente impaciento-me de esperar, de existir, de ser,
Vou-me embora brusco e notável ao porteiro que me fita muito mas rapidamente.
Regresso à cidade como à liberdade.
Vale a pena sentir para ao menos deixar de sentir."
Álvaro de Campos
25 de nov. de 2009
My first and last time with you
and we had some fun
went walking through the trees
and than i kissed you once
oh, i want to see you soon
but i wonder how
it was a new day yesterday
but it's an old day now
for a game to play
my luck should be so bad now
to turn out this way
oh, i had to leave today
just when i thought i'd found you
it was a new day yesterday
but it's an old day now
*Música da banda Jethro Tull, que estou ouvindo mil vezes
24 de nov. de 2009
23 de nov. de 2009
21 de nov. de 2009
Alguém em algum momento tem um tempo por mais que seja o mínimo infeliz.
O que fazer com essas peque nas pedrinhas de dor?
- Jogar fora pela janela
Vão atingir alguém! Ou causar o tropeço do outrém, um passo em falso.
Sem pedrinhas não haveriam matériais suficientes para construir alicerces, nem motivos para ficar atento.
Nem sapatos para proteger os pés
Nem mãos que aparem a queda e você possa se reerguer.
Camila Karina
20 de nov. de 2009
O ritmo paragráfico tem sido mal recebido, e, em parte, compreende-se porquê. No caso de Whitman, a incompreensão — que em todo o caso não foi grande, e com certeza não foi geral — explica-se pela novidade, não só do próprio ritmo (aliás pressentido por vários, como Blake, (...), mas da matéria, pois foi Whitman o primeiro que teve o que depois se veio a chamar sensibilidade futurista — e cantou coisas que se consideravam pouco poéticas, quando é certo que só o prosaico é que é pouco poético, e o prosaico não está nas coisas mas em nós. Whitman, porém, desorientou porque apresentou duas novidades juntas. O mesmo ahurissement produzi eu com a minha Ode Triunfal, no Orpheu 1, visto que, embora escrita perto de setenta anos depois da primeira edição das Leaves of Grass, aqui ninguém sabia sequer da existência de Whitman, como não sabem em geral da própria existência das coisas.
Mas no caso dos decadentes e simbolistas franceses, a incompreensão do ritmo paragráfico, e a aversão a ele, teve outra origem. Os decadentes franceses usaram um ritmo irregular e sem rima para dizer asneiras: o conteúdo matou o continente. Compreende-se que o infeliz que tomou o conhecimento do ritmo irregular através das imbecilidades de Maeterlinck, nas Serres Chaudes, do delírio idiota de René Ghil, das assonâncias sem sentido de Gustave Kahn, identificasse aquela ausência de fundo com a ausência de ritmo, nem sempre existente, pois, por exemplo, Khan tem ritmos realmente impressionantes.
Isso, porém, nada tinha com o ritmo. Mallarmé, que escrevia em versos rigorosamente «clássicos», tinha a mesma nebulosidade de sentido, compelindo o leitor a decifrar charadas sem conceito ao mesmo tempo que procurava senti-las.
O ritmo paragráfico, quando realmente se obtém, varia com os seus práticos. Largo, complexo, curioso misto de ritmos de verso e de prosa, em Whitman; curto, hirto, dogmático, prosaico sem prosa, poético sem quase poesia, no mestre Caeiro; pitoresco vindo parar à incrível idiotia de Marinetti, cuja banalidade mental lhe não permitia inserir qualquer ideia no ritmo irregular, porque lhe não permitia inseri-la em coisa nenhuma e lhe chamou «futurismo», como se a expressão «futurismo» contivesse qualquer sentido compreensível. «Futurista» é só toda a obra que dura; e por isso os disparates de Marinetti são o que há de menos futurista.
Tomemos um exemplo, simples e breve, em Caeiro:
Leve, leve, muito leve, (...)
Álvaro de Campos
18 de nov. de 2009
Caio F.
17 de nov. de 2009
15 de nov. de 2009
11 de nov. de 2009
Do livro "Confesso que Vivi — Memórias", Pablo Neruda
9 de nov. de 2009
Algumas doses de realidade para acordar e pisar em terreno desconhecido.
O universo sempre conspira para que eu me encontre com os dois caminhos para escolhas
A decisao é só uma, a particular, a única.
A verdade chegou até mim tão inocentemente, como não recepciona-la?
Parecia sensível e cruel, com uma ternura amarga despejando veracidades
É possivel ter emoção com os pés no chão?
Ela perguntou-me qual era minha opinião sobre seus presentes cortantes. Preferi tomar um copo d’ água antes de responder. A água limpa todos os canais internos do corpo, tinha esperança que limpasse também meus pensamentos.
Não fora eficiente, porém senti-me preparada para responder.
Recebi as coevas notícias, sem titubear, olhando firme. O impacto foi inevitável, era a verdade me visitando, uma honra e uma visita mau quista. Mas ela dizia que precisava me ver, que no fim das contas sempre é mau interpretada e muitos batem as portas em sua cara, a ignoram.
Fiquei surpresa. - Era verdade lamentando o desprezo das pessoas que não a queriam por perto.
Senti uma leve tristeza pela verdade, que parecia tão indefesa e carente de atenção.
Ouvi-a atentamente.
Ela deu-se conta de que eu prestara atenção em todo seu lamento e olhou-me com candura e frisou: “Sou como um xarope ruim para tosse, o inicio é amargo, mas é eficiente na cura dos males da garganta (ou de qualquer outra parte do corpo que eu possa influenciar)”.
E continuou: - As lágrimas seriam o efeito colateral desse xarope, mas eficientes na melhora do amadurecimento de pensamentos e sensações.
Levantou-se calmamente, deixando um rastro, não sei bem explicar de que e foi em direção às portas do vento.
Ela partiu. Mas antes de fechar as portas, (apesar dela já estar um pouco distante), gritei:
- Volte sempre!
Camila Karina
7 de nov. de 2009
Que ocupação maravilhosa é ir andando pelo Boulevard Arago contando as árvores, e a cada cinco castanheiros parar um momento num pé só e esperar que alguém olhe, e então soltar um grito seco e breve, e girar como um pião, os braços bem abertos, igual à ave cakuy que se vê nas árvores do norte da Argentina.
Que ocupação maravilhosa é entrar num café e pedir açúcar, açúcar outra vez, três ou quatro vezes açúcar, e ir formando um monte no meio da mesa, enquanto cresce a fúria nos balcões e debaixo dos aventais brancos, e exatamente no meio do monte de açúcar cuspir suavemente e espiar a descida da pequena geleira de saliva, escutar o barulho de pedras quebradas que o acompanha e que nasce nas gargantas contraídas de cinco fregueses e do patrão, homem honesto em certas horas.
Que ocupação maravilhosa é tomar o ônibus, descer em frente ao Ministério, abrir caminho a golpes de envelopes com selos, deixar para trás o último secretário e entrar, firme e sério, na grande sala de despacho toda de espelhos, no momento exato em que um contínuo vestido de azul entrega uma carta ao Ministro, e vê-lo abrir o envelope com cortador de papel de origem histórica, enfiar dois dedos delicados e retirar a pata da aranha e ficar olhando, e então imitar o zumbido de uma mosca c ver como o Ministro empalidece, quer tirar a pata mas não consegue, está agarrado pela pata, e dar-lhe as costas e sair assobiando, anunciar nos corredores a renúncia do Ministro e saber que, no dia seguinte, entrarão as tropas inimigas e tudo irá para o inferno e será uma quinta-feira de um mês ímpar de um ano bissexto."
(Júlio Cortazar - In: Histórias de Cronópios e de famas)
5 de nov. de 2009
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera
viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era
[Paulo Leminski, do livro Distraídos Venceremos]
4 de nov. de 2009
If it gets you up well I don't want it
It let you down so broken hearted
If it gets you down well then I want it
If only we're nothing at all
So blow our mind and make it lazy
Those long long days with no escaping
I hold the wheel to let it go
Don't wanna stop, don't wanna know
If it gets you down, well just don't blame me
If only we're nothing at all
Queens Of The Stone Age
*Música que não sai da minha cabeça e do meu som!
2 de nov. de 2009
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.
Júlio Cortazar
31 de out. de 2009
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: È.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: È.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, voc~e não vê?
A: eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?
(ad infinitum)
(Morangos Mofados- Caio Fernando Abreu)
28 de out. de 2009
Que posso dar-te tudo, o amor e a sorte
Caminhos, música e brinquedo.
É verdade que é assim:
É certo que tudo o que é meu te dou,
É certo,
Mas não te basta todo meu
Como não me basta que me dês
Todo teu.
Por isso não seremos nunca
O casal perfeito, cartão postal,
Se somos incapazes de aceitar
Que só na aritmética
O dois nasce do um mais um.
26 de out. de 2009
23 de out. de 2009
Uma mania unanime de organizar em pequenas doses as sensações e atitudes alheias. O semelhante (?) estava interessado neste resumo? A unanimidade quer transcrever a si prórpio como vago e superficial, um limite de toques.
Um limite para se expressar.
Esperemos um pouco, tudo tem um limite!
Essa opressao das expressoes está fora de controle. No ringue estao limite x ilimitado.
As emoções assistem a luta, rindo e com a certeza de que elas não possuem nenhum manual, sem grades, explodindo válvulas pulsantes sem perda de tempo. E isso é só um resumo do que elas podem fazer.
Camila Karina
22 de out. de 2009
para atravessar o saguão do mal-entendido.
Como não escorregar na cera
se os sentidos
já não me apóiam
e deslizam para longe
para todas as direções
como as contas de um colar
num chão de gelo
e nem o olhar consegue mais
alcançar, conter e contar
suas pérolas-lágrimas?
Como agarrar ou ser agarrado
nesse deserto triunfante
por alguma coisa que me ame?
Caio Fernando Abreu
21 de out. de 2009
Caio Fernando Abreu
Olho em volta, todos os soldados, companheiros fiéis da empreitada descansam.
Os semblantes espelhados em mim,mostram um leve sorriso que por trás omitem uma insólida descrença.
Acordei cansada e não acreditando em nada. Porque afinal as batalhas são travadas e morrem tantas emoções perenes do ser humano? Caminho no campo de combate observando o que me foi dado e o que me foi tirado, sem nenhuma conclusão aparente, imperceptível pela consciencia apressada.
Sinto um vazio em meio a sensação de vitória. Uma vitória isolada, sem comemoração mútua. Poderia me dar por satisfeita, afinal vencer instiga o homem e alimenta o ego, então me questiono e procuro a satisfação elementar para travar novas pelejas.
Acordei e sentia os raios solares penetrando em meus olhos como agulhas afundadas na pele, não queria abrir os olhos, eu sabia que a batalha tinha terminado e sem outro vencedor além de mim.
Ganhei a batalha.
Após refletir sobre a descrença, acreditei na fidelidade de meus companheiros. Honestamente os abracei e olhei em seus olhos (dentro de mim), todos me olhavam atentamente. Era eu, frente a frente de mim, e disse pausadamente à todos com voz suave: Esta foi uma grande guerra fria e ainda permanece do lado oposto.
Camila Karina
19 de out. de 2009
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Caio Fernando Abreu
17 de out. de 2009
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas.
Sempre ele, Fernando Pessoa
15 de out. de 2009
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.
Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva pra Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo bem.
...Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu Deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu Deus como você me dói de vez em quando"
Caio Fernando Abreu
14 de out. de 2009
mas não sei quem embaralha,
que anverso tem a medalha
cujo verso é minha figura.
dormem os números do mapa;
brinco de encontrar nessas cartas
a que cegamente me inclua.
De tanta alegre insensatez
nasce a areia da passagem
para o relógio do que amei,
pelo anjo ou pelo acaso,
se estou jogando ou sou as cartas.
13 de out. de 2009
onde se jogam as fontes de luz,
te discuto em cada nome, te arranco com delicadeza de cicatriz,
vou pondo em teu cabelo cinzas de relâmpago e fitas que
dormiam na chuva.
Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que
vem atrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem
no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitetura do nada,
acendendo suas lâmpadas no meio do encontro.
Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho,
disposto a te apagar, assim não és, muito menos com esse cabelo liso,
esse sorriso.
Busco tua soma, a borda da taça onde o vinho é também a lua e o espelho,
busco essa linha que faz o homem tremer
numa galeria de museu.
Além do mais te amo, e faz tempo e frio.
10 de out. de 2009
Um nó na garganta
As águas das pupilas que não desaguam
Um embrulho no estômago de socos da realidade pulsante
A gravidade sobrepondo-se na cabeça até que a sensação de explosão conclua-se internamente
Todos os globulos vermelhos convergindo-se para o orgão maior e menos visível
A temperatura efervecente como um anestésico.
Fecho os olhos.
ck
8 de out. de 2009
I can't believe that life's so complex
When I just want to sit here and watch you undress
I can't believe that life's so complex
When I just want to sit here and watch you undress
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love
That I'm feeling
Does it have to be a life full of dread
I wanna chase you round the table, I wanna touch your head
Does it have to be a life full of dread
I wanna chase you round the table, I wanna touch your head
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love
That I'm feeling
I can't believe that the axis turns on suffering
When you taste so good
I can't believe that the axis turns on suffering
When my head burns
Love, love, love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, love, love
That I'm feeling
Even in the summer
Even in the spring
You can never get too much of
A wonderful thing
You're the only story that I never told
You're my dirty little secret, wanna keep you so
You're the only story that never been told
You're my dirty little secret, wanna keep you so
Come on out, come on over, help me forget
Keep the walls from falling as they're tumbling in
Come on out, come on over, help me forget
Keep the walls from falling on me, tumbling in
Keep the walls from falling as they're tumbling in
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, this is love
That I'm feeling
This is love, love, love
That I'm feeling
*Música de Pj Harvey
6 de out. de 2009
5 de out. de 2009
Júlio Cortázar
4 de out. de 2009
Talvez os pensamentos possam confundir. Mas o sentir? Quem é o gerenciador da roleta russa das emoções?
É inevitável você sentar, excitar todos os cinco sentidos em busca do feed back. E quando os espelhos do outrem não refletem isso, o que podemos fazer?
Criar personagens e de alguma forma salvar a sí mesmo de se perder nesta empreitada? Sinceramente, não sei a resposta para nenhuma destas perguntas. A intuição ainda é o livro salva-vida de bolso mais eficaz, o autor é o coração, geralmente ele acerta.
Mas como dizia Mário Quintana : "As respostas certas não interessam, o que realmente interessa são as perguntas certas"
3 de out. de 2009
30 de set. de 2009
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
Pablo Neruda
28 de set. de 2009
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua
26 de set. de 2009
Achei um 3x4 teu e não quis acreditar
Que tinha sido há tanto tempo atrás
Um bom exemplo de bondade e respeito
Do que o verdadeiro amor é capaz
A minha escola não tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Alguém falou do fim-do-mundo,
O fim-do-mundo já passou
Vamos começar de novo:
Um por todos, todos por um
O sistema é mau, mas minha turma é legal
Viver é foda, morrer é difícil
Te ver é uma necessidade
Vamos fazer um filme
O sistema é mau, mas minha turma é legal
Viver é foda, morrer é difícil
Te ver é uma necessidade
Vamos fazer um filme
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
Sem essa de que: "Estou sozinho."
Somos muito mais que isso
Somos pingüim, somos golfinho
Homem, sereia e beija-flor
Leão, leoa e leão-marinho
Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão:
Quero viver a minha vida em paz
Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia.
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, vamos Fazer um filme
Eu te amo
Eu te amo
Eu te amo
23 de set. de 2009
21 de set. de 2009
& das Artes em geral -
alô poetas: poesia
no país do carnaval;
alô, malucos: poesia
não tem nada a ver com os versos
dessa estação muito fria.
O Poeta é a mãe das Artes
& das armas em geral:
quem não inventa as maneiras
do corte no carnaval
(alô malucos), é traidor
da poesia: não vale nada, lodal.
A poesia é o pai das ar-
timanhas de sempre: quent
ura no forno quente
do lado de cá, no lar
das coisas malditíssimas;
alô poetas: poesia!
poesia poesia poesia poesia!
o poeta não se cuida ao ponto
de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo
já sabe: não está cortando nada
além de minha bandeira
sem aura nem baúra, sem nada mais para contar
isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a
r : em primeiríssimo , o lugar.
poetemos pois
Torquato Neto
18 de set. de 2009
tente outra coisa
tente ver as coisas
de um modo diferente
tente outra cor
e se não for amor
outro tipo de gente
tente ver além
do que você já tem
à sua frente
tente um mundo novo
uma nova era
tudo pode estar te esperando
tudo pode estar
onde menos se espera
tente a todo instante
só o que manda o instinto
tente refrigerante
vinho branco e vinho tinto
tente ser Brasil
de um povo Heróico
um brado retumbante
tente o mundo todo
tente todo mundo
ninguém vai ficar te esperando
tudo pode estar
onde menos se espera
tente outra coisa
tente ver as coisas
de um modo diferente
por cima do muro
por baixo dos panos
tente outra vez
o que você já fez
de um modo diferente
tente um mundo novo
uma nova era
tudo pode mudar
tudo pode estar
onde menos se espera
tudo pode mudar
tudo pode estar
onde menos se espera
tudo pode mudar
tudo pode pintar
de quem menos se espera
numa noite de inverno
tarde de outono
ou manhã de primavera
tudo virar
pode ser verão
quando menos se espera...
Egenheiros do Hawaii
16 de set. de 2009
Corro risco, atropelo perigo, avanço sinal, ignoro avisos.
Procuro viver, sem medo, sem dor, com calor, aconchego,
Supro carências, rego desejos, desabrocho em risos...
Matéria cobiçada... na tez macia, no calor ardente.
Alma pura, envolta em completa fissura. Sem frescuras!
Encontro prazer na forma completa, repleta, latente.
Meretriz sem pudor,mulher no ponto, uva madura!
Sou quadro abstrato, me entrego no ato à paixão que aflora.
Sou enigma permanente, sem ponto final, sem continências,
Sou mulher tão somente, vivendo o momento, sorvendo as horas.
Sou pétala recolhida, sem forma, sem cor, completa em essência.
Exalo a esperança, transpiro vontades. Não me tenhas senhora.
Sou mulher insolúvel, nada volúvel. Vivo a vida em reticências...
Ângela Bretas
15 de set. de 2009
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.
Pablo Neruda
14 de set. de 2009
se tudo pode acontecer
se pode acontecer qualquer coisa
um deserto florescer
uma nuvem cheia não chover
pode alguém aparecer
e acontecer de ser você
um cometa vir ao chão
um relâmpago na escuridão
e a gente caminhando de mão dada
de qualquer maneira
eu quero que esse momento dure a vida inteira
e além da vida ainda de manhã no outro dia
se for eu e você
se assim acontecer
se tudo pode acontecer…
Alice Ruiz
13 de set. de 2009
D.
9 de set. de 2009
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.
E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:
"Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem".
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
7 de set. de 2009
3 de set. de 2009
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho
muito depois de caída.
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?
Leminski
2 de set. de 2009
1 de set. de 2009
28 de ago. de 2009
Clarice Lispector
27 de ago. de 2009
25 de ago. de 2009
Que fique muito mal explicado
Não faço força pra ser entendido
Quem faz sentido é soldado
Para todos os efeitos meus defeitos não são meus
Que importa o sentido se tudo vibra?
Não importa o sentido
O bramido do meu canto mudo
Comporta bemóis e sustenidos
Convoca ouvidos surdos
Ao silêncio suave
Da melodia sem conteúdo
Está escrito
Quem não quiser ceder
ao canto das páginas
feche os olhos
ou tape com cera os ouvidos
Alice Ruiz
24 de ago. de 2009
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.—
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
Álvaro de Campos
21 de ago. de 2009
-Penso que...
- Eu pensei também em algo, que não tem sentido pensar, mas diga, o que você sente?
- Eu sinto que...
- Acho que pensar e sentir nao estão na mesma rota, mas continue, o que você dizia que pensa e sente?
- Amor
- Isso tudo é engano. Não se engane em pensar que sente. Você acha que sente amor?
-Eu te amo!
- Acho que já vou.
-Boa noite.
Camila Karina
19 de ago. de 2009
Quero tranquilidade, mas não necessáriamente me acomodar. É possivel olhar várias vezes para o mesmo lugar e manter e melhorar a idéia todas as vezes?
Tudo é possivel, senão algumas palavras não existiriam.
18 de ago. de 2009
O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.
Bernardo Soares (Fernando Pessoa, também)
14 de ago. de 2009
Tenho que escolher o que detesto — ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar, ou agir, misturo uma coisa com outra.
Trechos do Livro do Desassossego (por Bernardo Soares, ocultamente, Fernando Pessoa)
Bernardo Soares, um dos semi-heterônimos de Fernando Pessoa (o cara!)
10 de ago. de 2009
7 de ago. de 2009
A protagonista é vivida por Kate Winslet, já premiada por este papel no Globo de Ouro. Poucas vezes o cinema conseguiu demonstrar tão sinteticamente os impasses culturais de um período da história americana como este Foi Apenas Um Sonho. Focaliza um casal que se une logo após o fim da Segunda Guerra e cujo casamento coincide com a consolidação do sistema econômico que só agora vemos entrar em crise nos Estados Unidos.
A monótona vidinha de classe média – definida pelo lúcido lunático interpretado por Michael Shannon, como “the hopeless emptyness” (o vazio desesperador) – incomoda o vaidoso personagem de Leonardo DiCaprio, mas é a esposa quem concebe a idéia de se mudar para a Europa e “passar a viver de fato”.
No entanto, os obstáculos a essa meta se mostram tão intransponíveis quanto insidiosos, ou seja, se encontram em tudo, em todas as coisas e pessoas. Exatamente como era a expressão dos desígnios divinos, na tragédia clássica. Insistindo na comparação, o filme também tem um coro (os vizinhos e amigos), um mago portador da verdade (o já citado maluco de Michael Shannon), sem falar na sangrenta catarse do final.
Os personagens simbolizam os pais da geração que se encontra atualmente transtornada pela crise econômica: dessa gente que atravessou a adolescência nos anos 60, experimentou a rebeldia e depois se integrou ao sistema, chegando agora à aposentadoria. Na pele da heroína, a encantadora rebelde que todos queríamos ter sido, Kate Winslet verbaliza a consciência do filme na frase: “ninguém se esquece da verdade, apenas se aprende a mentir melhor”.
Esse filme realmente mecheu com meus pensamentos/sentimentos.
Fonte: desconhecida.
6 de ago. de 2009
5 de ago. de 2009
3 de ago. de 2009
2 de ago. de 2009
Sun in the sky you know how I feel
Breeze driftin' on by you know how I feel
It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good
Fish in the sea you know how I feel
River running free you know how I feel
Blossom on the tree you know how I feel
Dragonfly out in the sun you know what I mean, don't you know
Butterflies all havin' fun you know what I mean
Sleep in peace when day is done
That's what I mean
And this old world is a new world
And a bold world
For me
Stars when you shine you know how I feel
Scent of the pine you know how I feel
Oh freedom is mine
And I know how I feel
Nina Simone
31 de jul. de 2009
(..) O que é essencial é sentir directamente e com ingenuidade as coisas - árvores ou máquinas, campo ou cidade. A m[inha] sensibilidade predispõe-me a sentir a máquina mais do que a árvore, a cidade mais do que o campo. Não deixo por isso de ter direito ao nome de poeta.
O essencial é sentir directa e simplesmente. Eu sinto directa e simplesmente. Sinto o complexo, o anormal e o artificial? É o meu modo de sentir. Logo que eu os sinta espontaneamente, estou no meu lugar, no lugar que a Natureza, criando-me assim, me impôs. Cumpro o meu dever. Chamam-me um «transviado». Não o sou. [...] Nasci para sentir as coisas simplesmente, tanto como vós; eu não nasci, como vós para sentir só as coisas simples. Se eu sou eu e não vós, para que hei-de escrever como escreveis? Escrevo [...] em mim é eu ser eu. Em que sou eu «transviado» em ser eu?
Para mim o único modo de transviar é criar um sistema, ou pertencer a um sistema. Há horas do dia em que sou materialista [?] e outras em que sou ultramontano, completamente ultramontano. É conforme sinto. Acho isto natural.
Se, como a grande maioria da gente, eu [...], se eu fosse panteísta, espiritualista, protestante, católico (...), qualquer coisa que se saiba o que é e se pode definir, eu mereceria o nome de transviado. Apenas vejo nunca pertencendo a um sistema ou a uma filosofia, mas pertencendo a um cérebro e a um sistema nervoso, e estes têm um modo de sentir e não uma religião, ou uma estética, ou uma moral qualquer.
30 de jul. de 2009
O exercício de reler um livro que você gosta e buscar a pág. 161 é até mesmo surpreendente, pois é capaz de "casar"com algum momento peculiar. Escolho o livro de um dos meus escritores/poetas favoritos: Fernando Pessoa, Livro do Desassossego:
Trecho: "Vi há pouco, em uma montra de loja de brinquedos, umas coisas que exatamente me lembraram o que essas expressões são. Vi, em pratos fingidos, manjares fingidos para mesas de bonecas. Ao homem que existe, sensual, egoísta, vaidoso, amigo dos outros porque tem o dom da fala, inimigo dos outros porque tem o dom da vida, a esse homem que há que oferecer com que brinque às bonecas com palavras vazias de som e tom?"
Indico para a brincadeira, Cynara, do blog Chocolate Quente , Danúbia Vilhena, do blog Casulo de Idéias e André, do blog O símbolo