29 de mai. de 2009

Desde que se pensa a sério em qualquer coisa é difícil ter uma opinião sobre ela. Estar certo é não reparar. Só vê nitidamente uma coisa quem não vê nitidamente essa coisa. Existir é estar desatento. Morrer é dar tanta atenção ao corpo que ele se desfaz debaixo da atenção. Blagues? E as de Deus?

Ao voltar hoje a página de um livro de filosofia, tive a revelação de que a página seguinte seria igualmente inútil. Eu tinha chegado a grandes conclusões marginais, mas... Todo o pensamento humano são páginas que se voltam, e a seguinte continua a antecedente às vezes no meio de uma palavra. O sentido do capítulo é o máximo do esforço atento de uma leitura possível. E quanto ao livro inteiro... é sempre o primeiro volume da obra de que se não publicaram mais. La suite au prochain zéro.



Álvaro de Campos

26 de mai. de 2009




o fim do silêncio: canção que não acabou
interna luz em fuga
lanterna sangra e suga
pra ouvir melhor, melhor apagar a luz

deve ser o que chamam canto do cisne
44 minutos do 2º tempo
pra frente é que se anda
para a praça, ver a banda passar
se você for, eu vou
se você vier, eu estou no mesmo lugar
pra frente é que se anda
na rua a banda continua a tocar
sem você, eu fico longe
com você, tudo volta ao lugar

há vida na terra
há chances de erro
não há nada que possa nos proteger
acontece a qualquer hora
acontece a qualquer um
não há nada de errado com a gente

deve ser o que chamam telhado de vidro
chuva de granizo, vitrines & vitrais
atire a 1ª pedra quem nunca atirou
espere pelo sangue que o bumerangue despertou
atire a 2ª pedra, a 3ª, o milhar
na idade das pedras que não criam limo
os flintstones continuam a rolar

deve ser o que chamam túnel do tempo
ano 2000 era futuro há pouco tempo atrás
há uma luz no fim do túnel
e não é um trem na contramão
(eterna luz em fuga)
há um tempo certo para tudo
para tudo uma razão (ou não)
há uma luz no fim do túnel
uma chama que nos chama, nos atrai
(lanterna sangra e suga)
é a luz do fim do túnel do tempo
fogo fátuo, falta de ar


e.h

Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands
Honor to love you

Still i wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

You've got this look i can't describe
You make me feel like I'm alive
When everything else is a fade
Without a doubt you're on my side
Heaven has been away too long
Can't find the words to write this song
Oh... Your love

Still i wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

I have come to understand
The way it is
It's not a secret anymore
'cause we've been through that before
From tonight I know that you're the only one
I've been confused and in the dark
Now I understand

I wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
I wonder why it is
I wont let my guard down
For anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands


Corinne Bailey

23 de mai. de 2009


Quero explodir as grades e voar.
Não tenho pra onde ir, mas não quero ficar.

21 de mai. de 2009

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão



Fernando Pessoa - (Só podia ser..)

16 de mai. de 2009



Speak to me of universal laws
The whores hustle and the hustlers whore
All around me people bleed
Speak to me your song of greed

Speak to me of your inner charm
Of how you'll keep me safe from harm
I don't think so, I don't see
Speak to me of your inner peace

Little people at the amusement park
City people in the dark
Speak to us, send us a sign
Tell us something to keep us trying

The whores hustle and the hustlers whore
Too many people out of love
The whores hustle and the hustlers whore
This city's ripped right to the core

Speak to me of heroin and speed
Of genocide and suicide, of syphilis and greed
Speak to me the language of love
The language of violence, the language of the heart
This isn't the first time I've asked for money or love
Heaven and earth don't ever mean enough
Speak to me of heroin and speed
Just give me something that I can believe

The whores hustle and the hustlers whore
Too many people out of love
The whores hustle and the hustlers whore
This city's ripped right to the core


*Música de Pj Harvey, que não sai da minha cabeça

13 de mai. de 2009

Passou a mão pela testa, confusa, como se também ela já fosse perdendo a fala, não conseguia mais pensar em termos de palavras, ela estava se metamorfoseando, e transfigurando-se enfim em si mes­mo — e penetrando nesse ultrapassamento cujo máximo é ter uma cara que sabe.

Iniciado agora no silêncio — não mais no silêncio das plantas, não mais no silên­cio das vacas, mas no silêncio dos outros — ela não sabia mais como se explicar. O que, ao mesmo tempo que lhe parecia a grande decadência e a queda de um anjo, pareceu-lhe também uma ascensão. Mas isso só entende quem, em esforço impalpável, já se metamorfoseou em si mesmo. A essa altura não sabia mais nada. Senão aquela mistura de cansaço, covardia e gratidão, onde ela enfim se mexeu com o gosto um pouco ignóbil e delicioso de um lagarto na lama. Mas alguma coisa se criara.
Exausta, mas se criara.

Sobretudo ela estava muita cansada. Quisera ela própria arcar com um far­do — “arcar com o fardo” era um dos símbolos antigos que ela precisara averiguar sozinha, resto de procissões e de jogos atlé­ticos a que assistira. Ela própria quisera arcar com o fardo e levá-lo adiante. Ela própria, além de tocar nos símbolos, nada pudera fazer. Ele protegeria com a ignorância o fardo, sem abrir-lhe o mistério, levando-o intacto e assim por diante, etc. Uma vez ou outra, então alguém inventava uma vacina que curava.

“Mas eu também tinha o direito de tentar!”, revoltou-se ela de repente, “eu queria o símbolo porque o símbolo é a verdadeira realidade!”
Que é mesmo que ela estava pensando?

Nada. A memória termina vol­tando.
Que é mesmo que ela estava pensando? Nada, aliás. O mundo era bonito, isso não se discute. E tudo estava certo. Futuramente certo.
“O que é mesmo que está certo?”, atrapalhou-se. Sua cabeça cansada se confundiu, ela não sabia muito bem o que é que está certo. Tentou então, com esforço sobre-humano, pros­seguir. Mas parece que não podia.

Parece que não podia, e que sua boa vontade não bastava; aí é que estava o problema. E agora, que se achava quase no fim da jornada, tendo quase ao alcance uma certa palavra ou um certo sentimento — agora ela não tinha força para estender o braço fatigado e alcançar. Tinha que parar ali onde parara, e transferir para os outros a construção da marcha. E ali humilde­mente ficar. E de novo ter como ideal máximo, adivinhar.
Tem uma coisa que nunca saberemos, você sente isso, não sente?

Só a impaciência do desejo lhe dera a ilusão de que o tempo de uma vida era tempo bastante. E só assim a palavra tempo teria o sentido que um dia ela adivinhara.

Exausta, como se já o tivesse tido alguma vez, ela o re­conheceu. O único modo de descobrir era, aliás, reconhecer. Assim era.
E foi assim que aconteceu, sem mais nem menos: ela teve a certeza. Como? Vamos dizer que uma pessoa tivesse um cérebro matemático mas ignorasse que existem números — de que modo então essa pessoa pensaria? tendo a certeza! Também a esperança é um pulo. Então jogou tudo na certeza. E ficou muito quieta.

Aliás, ela sabia a verdade. Embora não pretendesse pro­nunciá-la nem sequer sozinha — consigo mesmo, pois, a verdade, quando pensada, é impossível. A verdade foi feita para existir! e não para sabermos. A nós, cabe apenas inventá-la. A verdade... — bem, simplesmente, a verdade é o que é, pensou com uma profundeza que o depôs exatamente no vazio.

A verdade nunca é aterrorizante, aterrorizantes somos nós. E também, como que “a verdade acontecerá”. Quem não acreditar que a verdade acontece que veja uma galinha andando por força do desconhe­cido. “Aliás a verdade tem acontecido muito” —Essa profundeza de onde — de onde uma grande onda de amor lhe nasceu no peito.
De início, não sabendo que fazer com o amor, sua alma cambaleou um pouco com tanta crueza. Então ficou quieta, estóica, agüentando firme.

Ela se sentimentalizou toda, ficou tenra e amolecida — o que foi pra­ticamente ruim porque desviou o curso de seus pensamentos. “Agora sou obrigada a começar tudo do começo”, pensou muito perturbada. Mas agora era tarde para voltar com alguma frieza, pois estava toda emocionada. Foi então que — fazendo dentro de seus limites um círculo per­feito, e a sorte dela era rara em poder voltar por meios obscuros a seu próprio ponto de partida — num círculo perfeito dentro de seus escassos limites, ela então quis ser boa. Porque, afinal, adiando sine die o mistério, essa era a hora imediata. E sobretudo porque, afinal, “o outro homem” é o pensa­mento mais objetivo que uma pessoa pode ter! ela que quisera tanto ser objetiva.
Olhou. E sem a menor sombra de dúvida, viu concretamente.

O coração dela estava confuso. Foi um longo caminho. E é ver­dade que ainda minto (omito?) muito; menti tanto quanto precisei: mas talvez mentir seja o nosso mais agudo modo de pensar; talvez mentir seja o nosso modo de agarrar; e eu agarrei muito; minhas mãos têm um passado; foi um longo caminho, e eu tive que inventar os passos; mas esta inocência que sinto em mim é a meta; pois sinto, também em mim! a inocência e o silêncio dos outros. Nós somos as nossas testemunhas, não adianta virar o rosto para o outro lado. O consolo é que nem todos têm que depor e gaguejar, e só alguns sentem a danação de procurar compreender a compreensão. Estaria ela por acaso descobrindo a pólvora?

Não há dúvida: a coisa é ilógica, e ter esperança é ilógico.
Seu cinismo, ou o que quer que fosse, não se sustentou muito tempo.

Ela deve falar da ilógica.



cl

9 de mai. de 2009




Meu coração é um almirante louco

que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear ...
No movimento (eu mesmo me desloco

nesta cadeira, só de o imaginar)

o mar abandonado fica em foco

nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.

Há saudades no cérebro por fora.

Há grandes raivas feitas de cansaços.


Mas — esta é boa! — era do coração

que eu falava... e onde diabo estou eu agora

com almirante em vez de sensação? ...


Álvaro de Campos

8 de mai. de 2009


Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.

Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.

À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe.Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.

Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. É para o meu nome que vou.

Enfim terei uma resposta. Que resposta? O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.

À extremidade de mim estou eu. Eu, a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.

Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.

Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.



cl

4 de mai. de 2009


Meu coração, bandeira içada

Em festas onde não há ninguém...

Meu coração, barco atado à margem

Esperando o dono cadáver amarelado entre os juncais...

Meu coração a mulher do forçado,

A estalajadeira dos mortos da noite,

Aguarda à porta, com um sorriso maligno

Todo o sistema do universo,

Concluso a podridão e a esfinges...

Meu coração algema partida.


Alvaro de Campos

2 de mai. de 2009




come on baby
transformar esse limão em limonada
passar da solidão pra doce amada

pegar um trem pra próxima Ilusão


come on baby
segurar esse rojão, metade cada
seguir o coração, em disparada
numa estrada que só tem a contramão


come on baby
arriscar não passe só de palhaçada
faz de conta que o que conta, conta nada
apostar na falta de exatidão


come on baby
repartir toda noite em vários dias
repetir tudo o que seja alegria
e sonhar na corda bamba da emoção


come on baby
voar sem avião, sem ter parada
Inverso da razão, ou tudo ou nada
fazer durar a chuva de verão


come on baby
você e eu, luar, beijos, madrugada,
a vida não tá certa, nem errada
aguarda apenas nossa decisão



a.l

1 de mai. de 2009



Tem palavra
Que não é de dizer
Nem por bem
Nem por mal
Tem palavra
Que não se conta
Nem prum animal
Tem palavra
Louca pra ser dita
Feia bonita
E
não se fala
Tem palavra
Pra quem não diz
Pra quem não cala
Pra quem tem palavra
Tem palavra
Que a gente tem
E na hora h
Falta


a.r

Pensaram por aqui

 

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