30 de dez. de 2009

Toco
sinto
ando
tanto
que parto.
Volto
fico
aqui.
Quero
o toque
de teus cabelos
sentir
teu cheiro
e me encher
de ti.


Alice Ruiz

29 de dez. de 2009

hoje ácido
amanhã árido
tragicamente vulcânico
romântico talvez
entrementes ardente
organicamente carente
geometricamente incongruente
todavia absorvente
tristemente contente
teoricamente presente
tecnicamente ausente

Izabel Lisboa

28 de dez. de 2009

'A única alegria neste mundo é a de começar.
É belo viver, porque viver é começar,
SEMPRE ,
a cada instante.'


Cesare Pavese

25 de dez. de 2009

Jamais poderei renunciar ao sentimento de que aí, encostado à minha cara, entrelaçado nos meus dedos, existe algo como uma deslumbrante explosão em direção à luz, uma irrupção de mim para o outro e do outro em mim, algo infinitamente cristalino que poderia coagular e transforma-se em luz total sem tempo nem espaço. Como uma porta de opala e diamante a partir da qual se começa a ser aquilo que se é verdadeiramente e que não se quer e que não se sabe e que não se pode ser.

Júlio Cortazar



*Aos meus caros leitores, cúmplices na poesia, desejo um novo ano com muitas evoluções e grandes interpretações das palavras/vidas que estão por vir.

Camila Karina

23 de dez. de 2009

Eu te espero
porque o grito dos teus olhos
é mais
longo que o braço da floresta
e aparece atrás
dos montes, dos ventos
e dos edifícios
e o brilho do teu riso
é mais
quente que o sol do meio-dia
e mais e mais
Mas eu te espero
na porta das manhãs porque
o grito dos teus olhos
é mais e mais e mais

Tom Zé

20 de dez. de 2009

Pegar as pedras fortemente, apertá-las contra o peito, comprimir a cabeça e o corpo inteiro contra as árvores, pisar descalço na terra, colocar balas e doces (sempre em número ímpar) ao pé das árvores grandes para os duendes e devas e erês comerem e ficarem teus amigos, deixar na cabeceira toda noite copos de água com acúcar para as fadas virem beber de madrugada.

Acender velas para chamar LUZ, jogar rosas amarelas nas águas dos rios para Oxum.
Coisas assim: ritualizar, para dialogar com O Mistério. Para que ele te/nos proteja.

Coisas claras, panos brancos, incensos e flores.

Purificar, purificar o que na essência da nossa condição humana é pura e medonha treva de desconhecimento de todos os porquês.¨

Caio Fernando Abreu
'Despedir dá febre'


Guimarães Rosa

16 de dez. de 2009

"Que tudo seja leve
de tal forma
que o tempo nunca leve."

(Alice Ruiz)

14 de dez. de 2009

'Ah, eu mordo, mordo a vida como uma maçã suculenta. Brinco com ela feito um peixe e sou feliz. E o que é ser feliz? É seguir sempre em frente. Há algo melhor a ser feito do que aquilo que já fiz, e impulsionada pela ilusão favorável do progresso, buscarei progredir, fincarei as esporas em meu flanco, mais e mais - até aprender. Sempre. '



Sylvia Plath
"Nos outros eu sei onde se abriga o coracão, é no peito; em mim a anatomia ficou toda louca, eu sou todo coracão"


Maiakovski

11 de dez. de 2009

E por isso lhe ocorria agora aquilo que, na verdade, deveria ter lhe ocorrido logo no início: se alguém não tem domínio sobre si, jamais poderia ter alcançado a singularidade. E, afinal, quem é que se dominava de verdade? Quem é que tinha a perfeita consciência de si, da solidão absoluta que significa nem sequer contar com a própria companhia, que significa ter de entrar num cinema ou num bordel, ou em casa de amigos ou numa profissão absorvente ou, ainda, no matrimônio para estar, pelo menos, só entre os demais?


Júlio Cortazar

10 de dez. de 2009

Caros leitores, agora tenho uma galeria para registrar os Paralelos do Cotidiano em fotografia.

Visitem: http://br.olhares.com/ckpolvora




9 de dez. de 2009

As palavras parecem cinzas de cigarro levadas pelo vento, asfixiando minha respiração

Tento tossir para expelir as angustias que pesam no escudo vital, sem êxito

A solução é derramar o sal dos olhos para amenizar os poros em alto relevo doloridos

Encaro de frente.

Quantas vezes mais é necessário passar pelos exames dos sentimentos até chegar à um diagnostico tranquilo?

Com um novo médico? Ou um novo pulmão?


Camila Karina

7 de dez. de 2009

A frescura de impressões, o modo directo de sentir que aprendi nos seus versos, apliquei-o a outros assuntos, a uma Natureza de ordem diversa. Assim, reparei que uma máquina é tão natural - porque é tão real, e, afinal, ser natural é ser real, se fôssemos a pensar a fundo - como uma árvore; e uma cidade como uma aldeia. O que é essencial é sentir directamente e com ingenuidade as coisas - árvores ou máquinas, campo ou cidade. A m[inha] sensibilidade predispõe-me a sentir a máquina mais do que a árvore, a cidade mais do que o campo. Não deixo por isso de ter direito ao nome de poeta. O essencial ésentir directa e simplesmente. Eu sinto directa e simplesmente. Sinto o complexo, o anormal e o artificial? É o meu modo de sentir. Logo que eu os sinta espontaneamente, estou no meu lugar, no lugar que a Natureza, criando-me assim, me impôs. Cumpro o meu dever.

Chamam-me um «transviado». Não o sou. [...] Nasci para sentir as coisas simplesmente, tanto como vós; eu não nasci, como vós para sentir só as coisas simples. Se eu sou eu e não vós, para que hei-de escrever como escreveis? Escrevo [...] em mim é eu ser eu. Em que sou eu «transviado» em ser eu?

Para mim o único modo de transviar é criar um sistema, ou pertencer a um sistema. Há horas do dia em que sou materialista [?] e outras em que sou ultramontano, completamente ultramontano. É conforme sinto. Acho isto natural.

Se, como a grande maioria da gente, eu [...], se eu fosse panteísta, espiritualista, protestante, católico (...), qualquer coisa que se saiba o que é e se pode definir, eu mereceria o nome de transviado. Apenas vejo nunca pertencendo a um sistema ou a uma filosofia, mas pertencendo a um cérebro e a um sistema nervoso, e estes têm um modo de sentir e não uma religião, ou uma estética, ou uma moral qualquer.


Álvaro de Campos

2 de dez. de 2009


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Ferrera Gullar


1 de dez. de 2009

Subir até o azul,
descer até o inferno,
são coisas simples
que no fundo, eu queroIr, sem ir. Ficar,
passando. Passar assim,
como quem passa,
amando.

A viagem que não fiz
dói dentro de mim
assim como a raiz
de uma árvore sem fim.

-leminski
"Depois que um corpo
comporta outro corpo
Nenhum coração
Suporta o pouco"


Alice Ruiz

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