13 de fev. de 2009


O olhar é, primeiramente, um intermediário que me remete a mim mesmo. Basta que o outrem me olhe para que eu seja o que sou; ele me constitui através do olhar. Um olhar que me objetiviza e faz com que eu deixe de ser possuído pelo mundo; o fundamento da relação com o outrem é o conflito. Olhando-me o outro me julga, faz de mim objeto de seu pensamento. Eu dependo dele. Passo a estar em perigo e esse perigo é a estrutura permanente de meu ser para o outrem. De certa forma, eu poderia gozar dessa escravidão sob o olhar do outrem, pois se perco minha liberdade, perco, conseqüentemente, minhas responsabilidades, porém, isso não passa de uma ilusão, porque minha redução ao estado de objeto não me permite escapar à minha posição de sujeito e, ainda, solicita esta posição, pois da mesma forma que sou olhado, também olho. O outro me obriga a me ver através de seu pensamento como eu, reciprocamente, o obrigo a se ver através do meu. Eu dependo do outro que depende de mim.

Sartre

1 comentários:

Anônimo disse...

Esse é um dos grandes dilemas, uma visão de si e a codependência da expectativa da percepção de outrem. Vivemos numa ciranda eterna de reafirmação, não em si, mas para si e que sempre padece de validação.
Sartre é um mau sinal. Um presságio, uma inquietação, um eco que não se dissipa.

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